Serafim dos Anjos Pessegueiro tem hoje 71 anos.
Foi para a Angola, em 1961. Nunca matou ninguém, mas viveu várias aventuras que jamais esquecerá.
Uma delas ainda ao largo da costa portuguesa! Estavam a fazer a travessia da Almada para Lisboa, quando o barco fez um movimento brusco e uma senhora se desequilibrou e caiu à água. Mas logo um soldado açoriano se laçou à água para a resgatar e o meu avô foi avisar o comandante do navio para parar e voltar para trás, a resgatá-los. E assim este episódio, mesmo antes de partirem, acabou por ter um final feliz!
Já contando a viagem, passou por vários locais como o Funchal, Las Palmas, São Tomé e Príncipe e Angola (Luanda). Ficou de serviço, num aeroporto de Angola, e alojado numa espécie de quartel perto do aeroporto. No Verão, como o calor era tanto, chegou a ter baratas por baixo do colchão onde dormia.
Conta que um dia em que estava de folga, o meu avô e um colega foram dar uma volta e decidiram parar numa sanzala para se refrescarem. Ao aproximarem-se, um senhor de raça negra, sentindo-se ameaçado, puxou da sua catana para os matar e, como não estavam armados, o meu avô e o seu colega tiveram de “zarpar “ dali para fora. Diz que foi a pior aventura de todas e onde mais temeu pela sua vida.
Mas não foi só guerra! O meu avô teve um caso amoroso durante mais de 3 meses com uma senhora de raça negra. Apesar das dificuldades que tive para que me contasse a história, apenas me quis dizer que cada momento que tinha, folgas, quando acabava o seu turno, aproveitava todo o tempo para dar uma escapadela e ir ter com a tal senhora. E é por isso que desde pequenina o oiço dizer “Também já fui muito feliz em África!”
E foi assim que viveu por terras de África. Apesar da guerra verdadeiramente só ter começado um ano depois, o meu avô conta que já se faziam ataques com minas em Angola. “Matavam-se uns aos outros, havia soldados que pisavam as minas colocadas pelos seus compatriotas.”
Sandrine Pessegueiro