Para não escrever cartas aos namorados
Chamo-me Maria José, nasci numa pequena aldeia do concelho de Oleiros, chamada Brejas do Barco, em 21 de Março de 1925, e vivi nessa aldeia até os três anos.
Comecei aos 6 anos a trabalhar na agricultura, a ajudar lá em casa. Como o meu pai era pedreiro, leva-lhe o almoço ao trabalho todos os dias.
Com 10 anos, já percorria sozinha mais de 10 km, todos os dias. Não fui à escola, porque não havia escola perto de onde eu morava. Apesar de o meu pai saber ler e escrever, nunca ensinou as filhas, porque dizia que elas, se aprendessem a ler e a escrever, só iam escrever cartas para os rapazes.
Aos 14 anos, já trabalhava a transportar pedra para as obras onde o meu pai andava, colhia resina e transportava à cabeça madeira para locais onde os carros de bois vinham carregá-la e transportá-la novamente, para onde os camiões a viessem buscar.
Foi uma vida muito dura e pobre. Passei longos períodos sem comer, porque, quando havia pão, lá em casa tinha que ser dividido por todos e às vezes nem chegava. O meu pai às vezes só comia nos dias em que trabalhava, porque assim não era despedido e nos fins de semana também era raro comer.
Já estava tão habituada a andar descalça que nem as pedras me magoavam. Não se tinha vagar de ter frio ou calor, porque se trabalhava sempre com a roupa do Inverno que era a mesma do Verão.
Aos 19 anos, casei, tive 9 filhos, mas, dado a falta de assistência médica, os últimos três morreram e eu fiquei muito doente.
Maria José
Mapa do concelho onde vivi.
Evandro Breia