Agradecer a chorar
Laura da Cunha Domingues dos Santos já contabiliza 78 anos, nasceu dia 1 de Novembro de 1932.
A minha bisavó vivia na aldeia de Santa Margarida, onde era caseira, numa quinta chamada Vale Moscavide. Aí criou os seus nove filhos. Nunca passaram fome, mas trabalhavam muito: plantavam, faziam criação de animais e o que recolhiam apenas uma terça parte era para eles, o resto ficava para os proprietários.
A minha avó era a que cuidava dos animais da quinta (os perus chegaram a ter mais de 50).
A minha avó recorda-se de que, quando a crise apertou, iam lá três mulheres a pedir trabalho em troca de uma refeição e uma cesta com legumes. Chamavam-se Maria Pereira, Ana Cordeira e Lucinda.
Cada uma tinha a sua casa, tinham homem e filhos, mas não tinham emprego, nem que dar de comer, apenas água que apanhavam nas fontes.
A minha bisavó gostava muito delas e nunca lhes recusou trabalho. Quando chegavam, a minha bisavó punha-as a cavar, plantar, regar… e ao fim do dia lanchavam e a minha bisavó preparava as cestinhas que elas levavam com batatas, feijões melancias, tudo o que pudesse pôr e um pouco de tudo. Depois, agradeciam e a chorar iam-se embora para suas casas: já tinham o que dar de comer, por algum tempo, aos seus filhos e maridos.

Sandrine Pessegueiro